Reunindo um conjunto de biografias intelectuais de alguns dos nomes responsáveis pelo desenvolvimento da sociologia Brasil adentro, acaba de ser lançado pela Sociedade Brasileira de Sociologia um e-book que considero fundamental.
Além dessas proeminentes sociólogas e sociológos espelharem manifesto compromisso com a disciplina, muitos dos perfis traçados moldaram instituições e departamentos – contribuições que por vezes permanecem desconhecidas por neófitos.
Fico feliz que, dentre essas coortes de estudiosos, Guaraci Adeodato represente a Universidade Federal da Bahia. Por certo canhestro, o recurso que faço a um jargão demográfico (coorte) não é fortuito quando me dirijo a Guaraci, dada a dupla posicionalidade que assumia no campo acadêmico. Não necessariamente nessa ordem, Guaraci era cientista social e demógrafa, muito antes de tornar-se moda erigir a bandeira da “interdisciplinaridade”.
Por outro lado, algo em particular chama minha atenção na participação de Guaraci nessa coletânea. O último projeto de investigação tocado por ela revelava uma preocupação pela manutenção – a nível prático, cotidiano, quase microscópico – da vida.
Guaraci se interessava como esse movimento, dinamizado nos arranjos domésticos por diferentes gerações, conjugava-se a padrões emergentes, mas de expressão relevante nos levantamentos censitários mais recentes na Bahia.
Continuidade e mudança. A coletânea da associação científica dá carne à criação e manutenção de agendas e centros de pesquisa, realizações que trazem invariavelmente à tona linhagens e heranças, rostos e retratos.
Nessa esteira, o que agora escrevo não é mais do que uma nota de rodapé e um convite para a leitura do legado de Guaraci, recuperado de modo tão honesto e cuidadoso por Anete Ivo. Anete, a quem tenho repetidamente reportado minha admiração.
Iniciado na pesquisa social por Guaraci, nutro, como ela, um interesse persistente em diálogos intergeracionais e no trabalho que esses encontros são capazes de originar. Acredito que seja o ímpeto que anima a importante iniciativa da SBS: estimular conversas intergeracionais, decisivas para novas histórias e novos futuros sociológicos.