Roberto Machado *

* Texto veiculado originalmente no perfil de Instagram do autor em 20/05/2021

“Quando olho retrospectivamente para esses anos, sinto-me feliz por ter descoberto logo (…) que um professor é antes de tudo um aluno capaz de escolher o tema de seus estudos e se dedicar a ele enquanto lhe interessa”.

Ao relancear minha leitura de Impressões de Michel Foucault na manhã de hoje, ocasião em que soube da morte de Roberto Machado, algo me saltou aos olhos: o modo como ele sustenta ativamente, seja no relato em primeira pessoa acerca de Foucault ou de Deleuze, seja de si próprio, a reversibilidade das posições de professor e aluno. Com ele aprendemos que mestre e pupilo não dizem respeito a uma substância, mas a um gesto, que denota intensidades transitivas.

Não diria que Roberto Machado restitui, nesse livro, o lugar da paixão e do prazer na sala de aula e em um itinerário intelectual. Eros simplesmente nunca esteve ausente desses espaços e trajetos. Acaso ou não, é significativo que a última publicação do filósofo pernambucano se proponha a capturar o estilo e assinatura de alguns dos eminentes pensadores cujos cursos acompanhou avidamente. Sua última obra, singular no conjunto, é um testemunho vivo, investido de despojamento e grandeza, de como ensinar se trata menos de transmissão e mais de um exercício de envolvimento e de criação de ambientes.

Quando um professor fecha os olhos, me sinto mais triste. Especialmente hoje, a passagem de Roberto Machado me fez sentir saudades de uma sala de aula, do prazer estético que é assistir a um Professor desenhar com a voz o pensamento, e do entusiasmo que esse movimento é capaz de provocar.

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